Blog “Tudo Sobre Filmes”, de autoria de
Superdotado Álaze Gabriel.
INTRODUÇÃO
O cinema do Brasil existe como exibição e entretenimento desde julho
de 1896, e como realização e expressão desde 1897. Embora nunca tenha chegado a
se estruturar plenamente como indústria, o cinema brasileiro, em seus mais de
110 anos de História, teve momentos de grande repercussão internacional, como
na época do Cinema Novo, e de crescimento do mercado
interno, como no período da Embrafilme. Na primeira década do século XXI, a atividade
cinematográfica no Brasil envolve pouco mais de 2 mil salas,
que vendem uma média de 100 milhões de ingressos anuais, dos quais entre 15 e
20% são para filmes brasileiros. A produção nacional tem mantido uma média de
90 a 100 filmes de longa-metragem por ano, sendo que nem todos
conseguem lançamento comercial.
Segundo o crítico e
historiador Jean-Claude Bernardet, "não é
possível entender qualquer coisa que seja do cinema brasileiro se não se tiver
em mente a presença maciça e agressiva, no mercado interno, do filme
estrangeiro."
BREVE
HISTÓRICO: O PRINCÍPIO
Afonso Segreto, junto aos
primeiros projetores da Empreza Paschoal Segreto: os irmãos italianos
foram os precursores do cinema no Brasil.
A primeira exibição de cinema
no Brasil aconteceu em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, por iniciativa do exibidor
itinerante belga Henri Paillie. Naquela
noite, numa sala alugada do Jornal do Commercio, na Rua do Ouvidor, foram
projetados oito filmetes de cerca de um minuto cada, com interrupções entre
eles e retratando apenas cenas pitorescas do cotidiano de cidades da Europa. Só
a elite carioca participou deste fato histórico para o Brasil, pois os
ingressos não eram baratos. Um ano depois já existia no Rio uma sala fixa de
cinema, o "Salão de Novidades Paris", de Paschoal
Segreto 5
.
ESTRUTURAÇÃO
DO MERCADO EXIBIDOR: 1907-1910
A estruturação do mercado
exibidor de cinema no país acontece entre 1907 e 1910, quando o fornecimento de
energia elétrica no Rio e São Paulo
passa a ser mais confiável (inauguração da usina de Ribeirão das
Lajes). Em 1908 já havia 20 salas de cinema no Rio, boa parte delas
com suas próprias equipes de filmagem. Exibiam filmes de ficção das companhias
Pathé e Gaumont (França), Nordisk (Dinamarca),
Cines (Itália), Bioskop (Alemanha), Edison, Vitagraph e Biograph (EUA), complementados
por "naturais" (documentários) realizados na cidade poucos dias antes
(como "A chegada do Dr Campos Sales de Buenos Aires", "A parada
de 15 de novembro" ou "Fluminense x Botafogo").
PRIMEIROS
FILMES "POSADOS" E "CANTADOS": 1906-1908
Os primeiros filmes
"posados" (isto é, de ficção) feitos no Brasil eram em geral
realizados por pequenos proprietários de salas de cinema do Rio e São Paulo,
sendo frequentemente reconstituições de crimes já explorados pela imprensa: o
média "Os Estranguladores", de Francisco Marzullo (1906), o primeiro
sucesso, com mais de 800 exibições no Rio; "O Crime da mala", de Francisco Serrador (São Paulo, 1908) e
"Noivado de Sangue", de Antonnio Leal (Rio, 1909). Mas há também
comédias, como o curta "Nhô Anastácio chegou de viagem", de Marc Ferrez
(1908).
Em 1909 surgem os filmes
"cantados", com os atores dublando-se ao vivo, por trás da tela. O
sucesso do sistema resulta na filmagem de revistas musicais ("Paz e
amor", 1910, com sátira ao presidente Nilo Peçanha)
e trechos de óperas ("O Guarany", 1911). Há forte concorrência entre
as produções do Cinematógrafo Rio Branco (de Alberto Moreira) e da Rede
Serrador, que se instala no Rio e produz o drama histórico "A República
portuguesa" (1911), outro sucesso. Hoje não existem sequer fragmentos
desses filmes.
ADAPTAÇÕES
LITERÁRIAS: 1911-1926
A partir de 1911, chegam a São
Paulo imigrantes italianos que acabariam tomando conta do mercado nos próximos
30 anos: Gilberto Rossi, João Stamato, Arturo Carrari. O ator
italiano Vittorio Capellaro associa-se ao cinegrafista Antônio Campos e juntos
filmam os longas "Inocência" (1915), a partir do romance de Taunay,
e "O Guarani" (1916), baseado em José de
Alencar. No Rio, Luiz de
Barros, que viria a realizar mais de 60 longas-metragens até os anos
70, também começa por José de Alencar: "A Viuvinha"
(1915), "Iracema"
(1918) e "Ubirajara" (1919). Mais tarde, uma nova
versão de "O Guarani" (1926), de Capellaro, será
exceção na década: um filme brasileiro de sucesso.
CAVAÇÃO:
1916-1969
A partir de 1916, os
"naturais" se organizam em cinejornais, produzidos e exibidos
semanalmente, mantendo o pessoal de cinema em atividade com filmagens de
futebol, carnaval, festas, estradas, inaugurações, fábricas, políticos,
empresários, etc. Muitas pautas eram claramente encomendadas, misturando
jornalismo e propaganda. Daí o termo pejorativo "cavação", ou
picaretagem.
INVASÃO:
1911-1930
Os filmes brasileiros passam a
ter dificuldades de exibição, o que leva a uma queda de produção violenta.
Surgem as revistas especializadas em cinema e começam a difundir-se os mitos e
estrelas de Hollywood.
A partir dos anos 1930, diversos acordos comerciais estabelecem que os filmes
norte-americanos passam a entrar no Brasil isentos de taxas alfandegárias.
CICLOS
REGIONAIS: 1914-1929
Fora do eixo Rio-São Paulo, o
cinema brasileiro produziu uma série de ciclos de pequena duração, todos com
histórias parecidas: entusiasmo inicial, realizações precárias, algum sucesso
local, dificuldades num mercado dominado pelo produto estrangeiro, final
prematuro.
Em Pelotas,
Francisco
Santos realiza "O Crime dos banhados" (1914), provavelmente
o primeiro longa brasileiro, e ainda o curta "Os Óculos do vovô"
(1913), do qual resta hoje o fragmento mais antigo de filme brasileiro de
ficção.
O ciclo mais importante é o de
Recife
(1923-31), onde Edson Chagas, Gentil Roiz e outros
realizam 12 longas e 25 curtas, inclusive "Aitaré da praia" (1925),
que chegou a ser exibido no Rio.
Do ciclo de Cataguases (Minas Gerais) destaca-se Humberto
Mauro, autor de longas como "Brasa Dormida" (1928) e
"Sangue Mineiro" (1929), que o colocam na vanguarda do cinema
brasileiro de então.
SURGIMENTO
DO SOM: 1930
No começo dos anos 30,
o cinema brasileiro passa por uma rápida fase otimista, já que os
"talkies" (filmes falados) de Hollywood
têm dificuldades de entrar no mercado brasileiro, por deficiência das salas e
pelo problema da língua. Em 1930-1931 são produzidos quase 30 longas de ficção,
mas, em função dos custos, a produção volta a se concentrar no Rio e em São
Paulo. Surgem no Rio as produtoras Cinédia,
de Adhemar Gonzaga, e Brasil Vita Filmes, de Carmen Santos.
Humberto
Mauro, já o maior diretor de cinema do país, realiza para a Cinédia
sua obra-prima "Ganga bruta" (1933) e para a Brasil Vita
Filmes o sucesso "Favela dos meus amores"
(1935).
DOMÍNIO DE
HOLLYWOOD: 1936
As distribuidoras de filmes
norte-americanos no Brasil investem muito dinheiro em publicidade e na
aparelhagem de som dos cinemas, e passam a vender seus filmes no sistema de
"lote". Ao contrário do que se esperava, o público brasileiro
rapidamente se acostuma a ler legendas. A revista Cinearte diz incentivar o cinema
brasileiro, mas defende explicitamente a imitação dos filmes norte-americanos,
sua "higiene", seu "ritmo moderno" e seu respeito pelos que
têm "o direito de mandar". No ano de 1934, não é produzido nenhum
longa no país.
Dentro da ideia de imitar Hollywood,
a Cinédia
continua produzindo musicais: românticos como "Bonequinha de seda"
(1936) ou carnavalescos como "Alô, alô, Brasil" (1935) e "Alô, alô, carnaval" (1936), nos quais
surge Carmen Miranda, logo contratada por Hollywood.
Em 1940, a Cinédia produz "Pureza", com grande
orçamento, cenários especiais, equipamentos novos importados dos EUA e um
absoluto fracasso. Em 1942, dos 409 filmes lançados no país, apenas 1 é
brasileiro.
TENTATIVA DE
INDUSTRIALIZAÇÃO: 1940-1959
No final dos anos 40, a ideia
de "tratar temas brasileiros com a técnica e a linguagem do melhor cinema
mundial" seduz empresários e banqueiros paulistas, que se associam ao
engenheiro Franco Zampari na Vera Cruz - uma grande
produtora construída nos moldes de Hollywood,
com enormes estúdios, muitos equipamentos, diretores europeus e elencos fixos.
Apesar disso, a Vera Cruz
nunca conseguiu resolver o problema da distribuição de seus filmes, e foi à
falência. Pressionada pelas dívidas, vendeu os direitos de "O Cangaceiro"
(1953), de Lima Barreto, para a Columbia
Pictures, e não ganhou nada por ter produzido o primeiro filme
brasileiro de sucesso internacional.
Outras companhias com o mesmo
espírito da Vera Cruz, mas com menor capital, tiveram o mesmo fim: a Maristela,
que produziu 24 filmes a partir de "Presença de Anita" (1950) e
fechou em 1958; a Multifilmes, que realizou
9 longas, inclusive o primeiro filme brasileiro em cores, "Destino em
apuros" (1953), e encerrou suas atividades em 1954; a Brasil Filmes, que
produziu 7 filmes, entre eles "O Sobrado" (1956), de Walter George Durst, baseado em Erico
Verissimo, e faliu em 1959.
CHANCHADA:
1941-1950
No Rio dos anos 40, Moacir
Fenelon, José Carlos Burle e Alinor Azevedo criam a Atlântida Cinematográfica, sem grandes
investimentos em infraestrutura mas com produção constante. Estréiam com o
sucesso "Moleque Tião" (1941), drama baseado na vida do comediante Grande Otelo,
que interpretou a si próprio no filme. Luiz Severiano Ribeiro, dono do maior
circuito exibidor brasileiro, associa-se e passa a facilitar a exibição dos
filmes da Atlântida, vindo a comprar a empresa em 1947. Pela primeira
vez no cinema brasileiro, estão associados produção e exibição.
Aos poucos, as histórias vão
abandonando o carnaval e explorando a comédia de costumes, a partir dos tipos
folclóricos do Rio de Janeiro. Os melhores momentos vêm com os filmes de Carlos Manga
"Nem Sansão nem Dalila" (1954) e
"Matar ou correr" (1954), satirizando
dramas americanos de sucesso. O público gosta, mas os críticos
"sérios" dizem que chanchada não é cinema. (Chanchada em espanhol
significa exatamente "porcaria".)
As chanchadas (e a Atlântida)
se esgotam no final dos anos 50, quando o público parece cansar da fórmula, e
as maiores estrelas são chamadas para trabalhar na televisão.
PRECURSORES
DO CINEMA NOVO: 1950-1962
Ainda nos anos 50, por
influência do Neo-realismo italiano, surge no Rio um profundo
questionamento às tentativas de transplantar Hollywood
para o Brasil. Alex Viany realiza "Agulha no
palheiro" (1953) e Nelson Pereira dos Santos filma "Rio, 40 graus"
(1955), ambos com baixo orçamento, temática popular e busca de um realismo
brasileiro. O filme de Nelson termina proibido pela censura, desencadeando uma
campanha de estudantes e intelectuais pela sua liberação.
Em São Paulo,
Roberto
Santos aplica os mesmos princípios na comédia de costumes "O grande
momento" (1958). Como os anteriores, o filme tem problemas de
distribuição e não atinge o grande público.
Em Salvador, "Bahia de todos os santos"
(1960), de Trigueirinho Neto, e "Barravento"
(1961), de Glauber Rocha, desencadeiam um novo ciclo
regional, que atrai cineastas de outros estados em busca da temática
nordestina: entre outros, "O pagador de promessas"
(1962), de Anselmo Duarte, premiado com a Palma de Ouro no
Festival de Cannes, apesar de criticado pelos
novos cineastas como um filme "tradicional".
CINEMA NOVO:
1963-1970
Uma parcela (pequena, mas
significativa) da juventude brasileira descobre este novo cinema, comprometido
com a transformação do país. Em 1963, o movimento é deflagrado por 3 filmes:
"Os Fuzis",
de Ruy Guerra;
"Deus e o diabo na terra do sol",
de Glauber Rocha;
e "Vidas secas", de Nelson Pereira dos Santos. Em todos eles,
é mostrado um Brasil desconhecido, com muitos conflitos políticos e sociais.
Uma mistura original de Neo-realismo (por seus temas e forma de
produção) com Nouvelle vague (por suas rupturas de
linguagem). É Glauber quem define os instrumentos do cinema novo: "uma
câmara na mão e uma idéia na cabeça"; e também o seu objetivo: a
construção de uma "estética da fome".
"UDIGRUDI":
1960-1970
Uma nova geração de cineastas
responde à nova situação política do país com mais radicalidade: a estética do
lixo, o Cinema marginal, "udigrudi"
(corruptela de "underground", um dos nomes da contracultura
norte-americana dos anos 60). Suas obras, em maioria, são pouco
assistidas, com exceções como no caso de O Bandido da Luz Vermelha. Os cineastas
marginais rejeitavam as fórmulas tradicionais de narrativa e estética e
encontravam sua força no cinema experimental. Os principais representantes do
movimento são Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha,
1968), filme no qual se nota a influência de cineastas como Jean-Luc
Godard e Orson Welles; e Júlio
Bressane (Matou a família e foi ao cinema,
1969). Em 1970, os dois fundam a produtora Belair Filmes e realizam,
em apenas 3 meses, 6 longas de baixíssimo custo.
EMBRAFILME:
1936-1969
O Estado brasileiro há muito
tempo interferia no cinema do país - a princípio, para garantir o mercado do
filme norte-americano; mais tarde, em resposta a anseios nacionalistas de
industrialização. Em 1936, Roquette-Pinto criou o Instituto
Nacional do Cinema Educativo (INCE), onde Humberto
Mauro dirigiu mais de 300 documentários. As leis de obrigatoriedade
de exibição de filmes brasileiros existem desde 1932 (para cine-jornais) e 1939
(para longas-metragens). A partir de 1966, o Instituto Nacional de Cinema (INC) se
preocupa em estimular a produção e exibição de filmes brasileiros.
Mas é com a criação da Empresa
Brasileira de Filmes (Embrafilme), em plena ditadura
militar (1969), que o Estado passa a financiar a produção, enquanto
o Conselho Nacional de Cinema (Concine) se preocupa com a legislação. Parte do lucro das
distribuidoras de filmes estrangeiros no Brasil é taxado (como na Alemanha),
e esse dinheiro é usado para produzir filmes nacionais (como na Argentina),
mas o sistema de escolha dos filmes a serem produzidos é absolutamente
centralizado. Os cineastas oriundos do Cinema novo
(quase todos cariocas ou morando no Rio de Janeiro) ficam com a maior parte dos
recursos.
A contradição básica do
sistema se revela quando o filme "Pra frente, Brasil" (1982), do ex-diretor
geral da Embrafilme Roberto Farias, parcialmente financiado pela
Embrafilme (um órgão do governo) é proibido pela Censura (outro órgão do mesmo
governo).
PORNOCHANCHADA:
1970
A Pornochanchada é um gênero do cinema
brasileiro comum na década de
1970. Surgiu em São Paulo, nos anos 70, foi uma produção bem
numerosa e bem comercial, também conhecida como produção da Boca do lixo, de
onde despontaram vários diretores de talento que souberam usar o que dava
bilheteria na época (filmes eróticos softcore) para fazer filmes de
grande valor estético e formal. Chamado assim por trazer alguns elementos dos
filmes do gênero conhecido como chanchada e pela dose alta de erotismo
que, em uma época de censura no Brasil, fazia com que fosse comparado ao gênero
pornô,
embora não houvesse, de fato, cenas de sexo explícito nos filmes. Revelou
algumas atrizes que depois ficaram famosas na tv e passaram, de certa forma, a
esconder de seus currículos a participação nos filmes do gênero.
Surgem como filmes feitos para as massas, muito
influenciados pelas comédias populares italianas. As cotas de exibição
obrigatória, impostas pelo governo do período da ditadura militar, davam espaço
para o desenvolvimento desse gênero - a lei obrigava as salas de exibição a
exibir uma cota de filmes nacionais por ano. O sucesso de público também foi
essencial para o sucesso pois possibilitavam que o filme ficasse por mais
semanas em cartaz. Ao contrario do que comumente se pensa, eles não eram
financiados pela Embrafilme mas sim por produtores independentes, comerciantes
locais, ou quem mais se interessasse, por que eram de fato muito lucrativos.
Inicialmente ficou conhecida como cinema da
"boca do lixo", pois os filmes eram produzidos numa região da cidade de São Paulo conhecida por esse nome.
Depois surgiu também a pornochanchada carioca.
CONQUISTA DO
MERCADO: 1970-1976
Nos anos 70,
a palavra de ordem dos ex-cinemanovistas é "Mercado é cultura".
Tratava-se de fazer com que os filmes brasileiros fossem vistos pelo público de
cinema no Brasil. E, de certa forma, graças às produções da Embrafilme
de um lado, às produções baratas da turma da pornochanchada
de outro, aos filmes infantis dos Trapalhões
de um terceiro, e ainda a um novo "star-system" gerado pela
televisão, isso foi conseguido.
O mercado diminuiu: de 3200
cinemas em 1975 para 1400 em 1985; de 270 milhões de espectadores em 1975 para
90 milhões em 1985. Mas o Brasil produziu mais filmes: chegou a 100 em 1978 e a
103 em 1980. E a participação dos filmes brasileiros no mercado cresceu muito:
de 14% dos ingressos vendidos em 1971 para 35% em 1982.
ANOS 80
Em outubro de 1982, a crise econômica do
país piora com a falta de dinheiro para pagar a dívida externa. Falta dinheiro
para que o consumidor brasileiro possa ir ao cinema, falta dinheiro para
produzir filmes. A produção volta a cair. Os exibidores (donos de cinemas),
assessorados pelos distribuidores estrangeiros, começam uma batalha judicial
contra a lei da obrigatoriedade, e em muitas salas simplesmente param de passar
filmes brasileiros. Metade dos filmes produzidos em 1985 foi de sexo explícito.
Graças à "Lei do Curta"
(de 1975,
mas aperfeiçoada em 1984),
que obriga a sua exibição antes do longa estrangeiro, o curta-metragem
passa a ser o único cinema brasileiro com acesso ao mercado. Assim, em todo o
país surgem novos cineastas e novas propostas de produção, e os curtas
brasileiros ganham vários prêmios internacionais.
ERA COLLOR:
1990-1992
RETOMADA:
1992-2003
A partir de 1995, começa-se a falar
numa "retomada" do cinema brasileiro. Novos mecanismos de apoio à
produção, baseados em incentivos fiscais e numa visão neoliberal
de "cultura de mercado", conseguem efetivamente aumentar o número de
filmes realizados e levar o cinema brasileiro de volta à cena mundial. O filme
que inicia este período é Carlota Joaquina, Princesa do Brazil
(1995) de Carla Camurati, parcialmente financiado pelo
Prêmio Resgate. No entanto, as dificuldades de penetração no seu próprio
mercado continuam: a maioria dos filmes não encontra salas de exibição no país,
e muitos são exibidos em condições precárias: salas inadequadas, utilização de
datas desprezadas pelas distribuidoras estrangeiras, pouca divulgação na mídia
local.
Em 1997, para alcançar o
mercado cinematográfico, as Organizações Globo criaram sua própria
produtora, a Globo Filmes, empresa especializada que veio a
reposicionar o cinema brasileiro em, praticamente, todos os segmentos. Isto porque,
em um curtíssimo tempo, a produtora Globo Filmes viria a se tornar um grande
monopólio ocupante do mercado cinematográfico brasileiro. Ainda que para a
escala de operação da rede de televisão, o seu braço
cinematográfico possa vir a ser considerada uma empresa pequena. Dessa maneira,
através do cinema, o conglomerado foi capaz de atingir um dos últimos segmentos
tradicionais do mercado audiovisual brasileiro, nicho no qual ela ainda não
apresentava nenhuma participação realmente direta. Entre 1998 e 2003, a empresa se
envolveu de maneira direta em 24 produções cinematográficas, e a sua supremacia
se cristalizaria definitivamente no último ano deste período, quando os filmes
com a participação da empresa obtiveram mais de 90% da receita da bilheteria do
cinema brasileiro e mais de 20% do mercado total.
Segundo o crítico Luiz Zanin
Oricchio, "Cidade de Deus", por sua importância, teria sido o marco
final do período conhecido como "a retomada do cinema brasileiro".
BIBLIOGRAFIA
· BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história.
Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979.
· RAMOS, Fernão (org.). História do cinema brasileiro. Art Editora, São
Paulo, 1987.
· SALLES GOMES, Paulo Emílio. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento.
Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1980.
· SOUZA, Carlos Roberto de. A Fascinante aventura do cinema brasileiro.
Fundação Cinemateca Brasileira, São Paulo, 1981.
· GATTI, André Piero. Distribuição e Exibição na Indústria Cinematográfica
Brasileira (1993-2003). 357 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2005.
VER TAMBÉM
REFERÊNCIAS
1.
↑
ALMEIDA, Paulo Sérgio e BUTCHER, Pedro: "Cinema: desenvolvimento e
mercado", ed. Aeroplano, 2003.
3.
↑
BERNARDET, Jean-Claude: "Cinema brasileiro, propostas para uma
história", ed. Paz e Terra, 1978
12.
↑ a
b
GATTI, André Piero. Distribuição e Exibição na Indústria Cinematográfica
Brasileira (1993-2003). 357 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2005.
13.
↑
ORICCHIO, Luiz Zanin: "Cinema de novo", ed. Estação Liberdade, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sintam-se à vontade para enriquecer a participação nesse blog com seus comentários. Após análise dos mesmos, fornecer-lhe-ei um feedback simples.