Blog GÊNEROS
AUDIOVISUAIS, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
Disponível em http://arquivo-digital-de-filmes.blogspot.com.br/
Autoria:
Dostoiewski
Mariatt de Oliveira Champangnatte - Mestre em
Educação pela Universidade Estácio de Sá (UNESARJ) e Professor do curso de
Comunicação Social da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO);
Lina
Cardoso Nunes - Doutora em Educação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ) e Professora Titular da
Universidade Estácio de Sá (UNESARJ).
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar como as mídias
audiovisuais estão sendo utilizadas em salas de aula pelos professores de
escolas públicas. Os participantes foram professores de três escolas municipais
do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados por meio de questionários,
observações e entrevistas semi-estruturadas, e submetidos à análise de
conteúdo, modalidade temática. Os temas surgidos foram analisados a partir da
literatura sobre mediações, mídia-educação e mídias. Os resultados apontam que
a maioria dos professores considera importante o uso de mídias em sala de aula,
mas que as usam apenas como recurso ilustrativo ou apoio em suas atividades.
Palavras-chave: mídia-educação. mediações. mídias.
1. INTRODUÇÃO
A presença das mídias audiovisuais1
em sala de aula tem sido assunto de pesquisas e debates de diversos autores
(MORAN, 2007; VALENTE, 2002; FANTIN, 2006; BELLONI, 2005). O interesse por esse
tema aparece desde antes da implantação das políticas públicas para
modernização das escolas, em estudos relacionados às mediações2,
à mídia, à educação e à comunicação. Enfocase também a discussão de políticas
públicas até estudos mais recentes que analisam a forma como essas políticas
estão sendo aplicadas nas escolas e que tipos de resultados geraram.
Os estudos sobre as relações entre mídia e
sociedade tiveram representatividade significativa na América Latina com as
teorias latinoamericanas de comunicação e cultura, principalmente com a teoria
latinoamericana das mediações de Martín-Barbero e com estudos do enfoque
integral da audiência de Guillermo Orozco. Essas teorias partem de um ponto
principal em que as mídias devem ser analisadas a partir de seus contextos
sociais e históricos; e que cultura e sociedade devem ser pensadas como uma
teia. A partir disso, analisar uma mídia audiovisual em determinado contexto,
em sala de aula, em família ou em comunidade, implica perceber as mediações que
ocorrem entre essa mídia e as pessoas que a cercam (MARTÍN-BARBERO, 2003;
OROZCO, 1991).
Atentar para a realidade que cerca a escola é um
dos primeiros passos para ficar em sintonia com a realidade e com os próprios
alunos, que sofrem a todo momento interferências do mundo fora da escola.
Trazer para a escola o que está em seu entorno pode ser uma das maneiras de
aproximar essas duas realidades díspares, a de fora da escola e a da própria
escola. Um exemplo disso é a incorporação das mídias no contexto escolar, o que
tem sido observado tanto no uso da própria mídia em sala de aula como recurso
pedagógico quanto por meio de discussões sobre as mídias e suas influências na
sociedade. A mídia-educação estuda essas e outras relações referentes às mídias
e à escola.
A mídia-educação possui diversas facetas, como
aponta Fantin (2006), e a partir delas cria-se o que se pode chamar de uma
educação com as mídias e de uma educação para as mídias. Equiparando-se com as
facetas apresentadas por Belloni (2005), em que uma educação com as mídias
refere-se ao uso da mídia como suporte para a didática em sala de aula, uma
educação para as mídias seria a busca de se trabalhar na educação uma abordagem
de leitura crítica e reflexiva das mídias, não só da mídia presente na escola,
mas na sociedade como um todo.
Com relação a uma educação com as mídias, que se
refere aos seus usos didáticos em salas de aula, tem-se observado nos espaços
educacionais, em nossa vivência, em alguns casos, uma preocupação com a
apropriação crítica das tecnologias pelos professores e alunos. Moran (2007)
aponta que é interessante que o professor, a partir do trabalho com mídias,
encontre meios de provocação para os alunos. Ao utilizar as tecnologias, seja
para iniciar seja sintetizar um trabalho, o professor deve estar atento para
incitar discussões em sala de aula, estimulando o interesse pelo tema abordado
e gerando também a vontade de pesquisa nos alunos. É importante que o professor
assuma a função de mediador, e não apenas de transmissor de um conhecimento.
Napolitano (2003), em trabalho sobre o uso de
cinema em sala de aula, também aponta para a utilização crítica das mídias
audiovisuais. O autor coloca que o cinema pode ser usado de diversas formas
pelos professores, como fonte ou texto-gerador. A partir desses usos é
interessante que o professor promova discussões e questionamentos sobre os
conteúdos trazidos pelos filmes, comparando aos conteúdos de sala de aula,
assim como com as realidades de seus alunos.
Trazer a mídia para dentro da escola, tanto para
discussão quanto para seu uso pedagógico, é uma maneira de aproximar os alunos
de suas realidades, o que permite maior facilidade na ocorrência das mediações
escolares, tanto mediações alunos-professores quanto
alunos-tecnologias-professores. (BELLONI, 2005; FANTIN, 2006). Mediações essas
que, portanto, podem facilitar cada vez mais o ingresso e um trabalho crítico
das tecnologias da informação e comunicação nos processos educacionais.
Os meios de comunicação promovem a descentralização
na circulação dos saberes e a socialização a partir disso, colocando num mesmo
espaço diversas culturas, padrões e visões de mundo (MARTÍN-BARBERO, 2003).
Assim a escola tem de estar atenta a essas transformações para participar desse
processo,
(...) interagir com as mudanças no campo/mercado
profissional, ou seja, com as novas figuras e modalidades que o ambiente
informacional possibilita, com os discursos e relatos que os meios de
comunicação de massa mobilizam e com as novas formas de participação cidadã que
eles abrem, especialmente na vida local (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 67).
Atentar para a realidade que a cerca é um dos
primeiros passos para a escola ficar em sintonia com a realidade e com os
próprios alunos, que sofrem a todo momento interferências do mundo fora da
escola. Trazer para a escola o que está em seu entorno pode ser uma das
maneiras de aproximar essas duas realidades díspares, a de fora da escola e a
da própria escola. Um exemplo disso é por meio da incorporação das mídias no
contexto escolar, tanto no uso da própria mídia em sala de aula como recurso
pedagógico quanto por meio de discussões sobre as mídias e suas influências na
sociedade, tendo em vista que a mídia-educação estuda essas e outras relações
referentes às mídias e a escola.
A teoria das mediações influenciou diversos estudos
sobre mídia-educação, principalmente na maneira de se perceber as relações
dialéticas entre o meio e a sociedade que o cerca, no caso, o contexto escolar.
Ainda remetendo a Martín-Barbero (2003, p. 67), "a escola deve interagir
com os campos de experiência onde se processam hoje as mudanças". Isso
inclui desde as relações da ciência com a arte, das literaturas escritas e
audiovisuais, até mesmo em questões de pesquisa e experimentações estéticas.
Assim, é importante que a escola esteja atenta às mediações ocorridas entre a
família e o mundo que a cerca, pois o aluno faz parte do contexto familiar. De
acordo com Martín-Barbero e Rey (apud OROFINO, 2005), a família é um ambiente
de grandes tensões e, ao mesmo tempo, é onde o indivíduo encontra ambiente de
expressão e/ou de repressão. É a unidade básica no meio do qual formam suas
primeiras impressões. Assim como a escola, a família também está sujeita às
mediações das mídias, reforçando a concepção de uma análise da realidade como
uma teia. Dessa forma, perceber as mídias inseridas no contexto escolar é
perceber qual realidade cerca essa própria mídia dentro da escola, de que
maneira é administrada e de que forma a presença dela altera o cotidiano
escolar.
Como já dito, a mídia-educação ocupa-se das
análises das relações entre a mídia e a escola e, em seus estudos, aborda
aspectos sobre educação e comunicação. As discussões em torno da mídia-educação
envolvem também a própria definição desse termo e seus campos de estudo.
Belloni (2005) faz um estudo sobre os aspectos conceituais e históricos da
mídia-educação e aponta duas facetas que ela possui: a de ser uma ferramenta
pedagógica e também a de ser um objeto de estudo complexo e multifacetado, que
permeia a realidade, ou seja, a primeira faceta refere-se à mídia utilizada
dentro da sala de aula (como recurso pedagógico) e a segunda, à mídia fora da
sala de aula (TV, rádio, cinema, internet). Porém, em ambos os casos, apesar de
terem duas facetas diferentes, se interligam em diversas análises, podendo
formar também um objeto único de estudo.
A presença das mídias nas escolas públicas
brasileiras é influenciada por diversas políticas governamentais. O governo
federal criou, na década de 1990, três iniciativas principais: a TV Escola, o
DVD Escola e o ProInfo. O projeto TV Escola consistiu na criação de um canal de
televisão em que seriam exibidos programas educativos. Foram comprados e
enviados para as escolas aparelhos e fitas de videocassete, televisões e
antenas parabólicas. Algumas escolas não receberam o kit da TV Escola e, mais
recentemente, integraram o projeto DVD Escola. Este projeto consiste no envio
de aparelhos de DVD e de uma caixa contendo DVDs com os principais programas da
TV Escola, abrangendo diversos conteúdos e disciplinas (BRASIL, 2009).
Em 1997, foi criado o ProInfo, que consistiu na
construção de laboratórios de informática em diversas escolas públicas do país.
As escolas deveriam ser equipadas com computadores com acesso à internet.
Paralelo à criação do ProInfo foi criado o NTE (Núcleo de Tecnologia
Educacional), em que são reunidos educadores e especialistas em informática
para dar suporte funcional e educativo às escolas.
Com relação às iniciativas municipais, a Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro realiza o projeto Sala de Leitura, o
Programa Informática Educativa e a Multirio. O projeto Sala de Leitura prevê
que, nas escolas municipais, haja uma sala onde existam livros, vídeos
educativos, filmes, televisão, aparelho de DVD e vídeo, jornais e revistas. O
Programa Informática Educativa prevê a instalação de laboratórios de
informática com acesso à internet nas escolas onde ainda não houve o benefício
do ProInfo. Há também a Multirio, que é uma empresa vinculada à SMERJ e que
exibe, produz e distribui conteúdos educativos para as escolas da rede
municipal (SMERJ, 2009; MULTIRIO, 2009).
Diante desse quadro de modernização das escolas
públicas brasileiras e a partir de estudos referentes à mídia-educação e
mediações é que se propõe este artigo, voltado para a análise de como as mídias
audiovisuais implantadas em escolas municipais do Rio de Janeiro estão sendo
usadas em termos didático-pedagógicos, tendo em vista a perspectiva das
mediações.
Esta pesquisa teve por objetivo geral investigar como
as mídias audiovisuais implantadas pelo governo em escolas públicas estão sendo
utilizadas em sala de aula. Nesta pesquisa, as mídias audiovisuais focalizadas
foram o computador/internet e os vídeos/DVDs utilizados em sala de aula.
De acordo com os aspectos apresentados, os
procedimentos metodológicos que orientaram a presente pesquisa foram os da
abordagem qualitativa (ALVESMAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2000; BOGDAN; BIKLEN,
1994). A pesquisa baseou-se no acompanhamento direto e prolongado, por parte do
pesquisador, da realidade pesquisada, obtendo descrições detalhadas dos fatos,
dos sujeitos e suas atitudes, assim como de trechos de documentos, relatórios e
materiais escritos pertencentes ao campo estudado.
Os sujeitos da presente pesquisa foram professores
de três escolas da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, pertencentes à
2ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), denominadas neste estudo como
Escolas A, B e C. A escolha dessas escolas se deu por questões de facilidades
de acesso ao campo de pesquisa. A primeira etapa da pesquisa consistiu numa
fase exploratória, de visitas às escolas para a apresentação da pesquisa aos
coordenadores, diretores e professores, e também para o conhecimento preliminar
do espaço escolar. Ao final desse período, foi feita a caracterização dos
participantes da pesquisa por meio da aplicação de um questionário a 20
professores. Após a aplicação do questionário e a consulta aos participantes
sobre a possibilidade de suas aulas serem observadas, foram definidos dez professores
para o início das observações. Durante esse período, foi elaborado um diário de
campo e, ao final do período de observação, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas com os professores observados.
Para este artigo foram destacados os resultados das
entrevistas semie-struturadas, sendo que a análise dos dados relativa às falas
dos participantes privilegiou a análise de conteúdo, na modalidade temática
(BARDIN, 2003). A partir dessa técnica, realizou-se leitura exaustiva das
entrevistas e foi feita a contagem de vários itens de significados, chegando-se
a uma unidade de significação de determinado bloco analisado. As fases da
análise de conteúdo organizaram-se segundo três aspectos: a pré-análise, a
exploração do material e o tratamento dos resultados. No item 3 são
apresentados os resultados relativos à análise.
2. O CAMPO DE PESQUISA
2.1. Breve descrição do campo
A caracterização das escolas foi feita a partir de
observações e de informações pesquisadas junto aos funcionários e visou a
apresentar a realidade estrutural das mesmas, principalmente no que se
relaciona à presença das mídias nessas escolas.
As três escolas possuem laboratório de informática
com dez computadores, sendo que nem todos funcionavam satisfatoriamente durante
a realização da pesquisa. As escolas B e C possuíam as salas de leitura em
funcionamento, ao contrário da escola A, em que a sala de leitura estava em
reforma. Todas as escolas possuíam sala de vídeo. As escolas B e C possuíam
sistema de tabela de agendamento de uso da sala de vídeo e da informática,
enquanto que na escola C o agendamento era feito apenas de forma oral com a
coordenação.
2.2. Características dos professores
As características dos professores foram traçadas a
partir da aplicação de um questionário fechado, que se compunha de uma parte
sobre tempo de trabalho, carga horária e formação profissional e outra parte
que esclarecia questões sobre a utilização das mídias. Foram escolhidos
aleatoriamente 20 professores de cada escola, que responderam às perguntas sem
a interferência do pesquisador.
3. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
A partir da análise dos dados coletados
relacionados às falas dos participantes foi elaborado um quadro de temas e
subtemas emergentes das entrevistas semi-estruturadas aos dez professores que
se dispuseram a participar do estudo e dos diários de campo. Os principais
temas e subtemas surgidos serão apresentados a seguir, juntamente com
depoimentos dos professores e referências aos autores escolhidos para
fundamentar a investigação.
Os professores foram questionados sobre a
importância que veem no uso de mídias em sala de aula e apresentaram diversos
pontos de vista referentes às mídias no contexto escolar. Esses pontos foram
agrupados em dois blocos, que se referem à mídia como aproximação da realidade
do aluno e à mídia como uma nova linguagem e suas implicações no processo ensino-aprendizagem.
3.1.1 A mídia como aproximação da realidade do
aluno
Diante do questionamento sobre a importância do uso
de mídias em sala de aula alguns professores levantaram a questão de que as
mídias na escola aproximam os alunos da realidade. A seguir, algumas falas de
professores sobre esse ponto
P.B.9 - a mídia, ela é importante primeiro porque está
dentro da realidade deles, no dia a dia eles já usam televisão, internet, DVD,
vídeo. Então é aproximar a escola, aproximar o ensino da realidade deles. E dar
a possibilidade de novidades, de coisas mais interessantes.
P.C.5 - Inicialmente eu acho que os alunos vivem de
forma multimídia, estão cercados de mídia e a escola tem que acompanhar... por
isso que a escola precisa usar as mídias, se não ela estará deslocada da vida
do aluno... hoje em dia, professor que vive só de giz, quadro e livro não
consegue acompanhar o ritmo do aluno!
P.A.10 - Eu acho que é importante pelo pé que a gente
tem com a realidade. A gente pode aproveitar as mídias e as coisas que eles
vivem para trabalhar questões ligadas às realidades deles! Esses meninos vivem
em lan houses o tempo todo! Se não tão na lan house, estão vendo televisão,
vendo DVD, que está tão barato nas ruas!... Eu procuro fazer essa ponte,
trabalhar com as mídias para aproximar o trabalho aqui na escola com o que eles
vivem lá fora.
Os professores apontam que os alunos fora da escola
vivem cercados das mídias e as utilizam e que, por isso, a escola deve também
utilizá-las, tanto para aproximar-se da realidade de seus alunos quanto para
não ficar para trás no que diz respeito aos avanços tecnológicos. Aponta
Martín-Barbero (2004) que a escola precisa se ambientar com a realidade e com
os avanços dos meios de comunicação, e deve procurar se relacionar com a
realidade que a cerca, que é permeada por tecnologias que se renovam contínua e
rapidamente. Caso isso não ocorra, a escola pode ficar para trás em termos
tecnológicos, e isso se refletirá também nas suas relações com seus alunos, que
já estarão acostumados a novos modos de relacionamentos, advindos das
tecnologias, e que poderão achar obsoletas as formas como a escola conduz suas
relações com os alunos.
3.1.2. A mídia como uma nova linguagem e o processo
ensino-aprendizagem
Um segundo ponto que os professores abordaram com
relação à importância do uso de mídias está relacionado ao fato de eles
perceberem a mídia como uma nova linguagem em sala de aula, e que isso é muito
importante e pode, positivamente, ser aproveitado pelos professores, o que
possibilita mudanças no processo ensino-aprendizagem. Entre alguns depoimentos
estão
P.B.4 - As mídias são novas linguagens, a gente vive
num mundo de novas linguagens e quanto mais linguagens você trabalhar para que alguém
encontre um caminho para entender uma coisa é fundamental... Eu procuro
trabalhar o mesmo assunto das mais diferentes maneiras para que cada aluno
encontre a sua maneira de aprendizagem. E o vídeo e a internet são mais outras
linguagens para os alunos aprenderem. Se não entendeu com o giz e o livro,
talvez possa entender de outra maneira!
P.A.5 - Olha, eu acho que traz muitos benefícios para
os alunos em termos de conteúdo, em termos de outra linguagem que possibilita
melhor aprendizado. Às vezes um aluno não consegue entender o conteúdo com a
explicação do professor e daí com o vídeo ou em um jogo na internet ele aprende
mais fácil.
Partindo para uma análise desses depoimentos,
remete-se a Orozco (2002), que aponta que as novas tecnologias devem servir à
educação como uma nova linguagem e para o aproveitamento de diversas linguagens
e formatos. Como as mídias são formatos diferentes de um livro ou de um
quadro-negro com giz, ou seja, da linguagem escrita e ou mesmo falada, como a
fala do professor, elas também devem ser encaradas como uma nova linguagem em
sala de aula, ou seja, devem ser analisadas não só pelos parâmetros da
linguagem escrita. Um texto de vídeo (cinematográfico) possui uma linguagem
diferente de um texto escrito e mesmo até de seu roteiro escrito. Há diversas
informações que precisam ser observadas, como o cenário, a iluminação, o
figurino, a interpretação dos atores, a direção, fatores que, juntos, formam a
linguagem do vídeo e que assim permitem seu entendimento. Uma análise que contemple
apenas as falas ou a narrativa de um vídeo ficará muito aquém das
possibilidades oferecidas pela própria linguagem peculiar do vídeo.
3.2. UTILIZAÇÃO DE VÍDEOS E INTERNET EM SALA DE
AULA
Quanto à utilização dessas mídias, surgiram dois
subtemas que estão apresentados a seguir.
3.2.1. Utilização de vídeos em sala de aula
P.B.3 - Eu geralmente uso o vídeo na introdução de um
novo conteúdo, de um novo assunto. Daí, no decorrer do processo, posso também
usar novamente o vídeo para melhorar a noção, exemplificar melhor a teoria,
ilustrar.
P.A.3 - Eu, quando passo vídeo para meus alunos, sempre
passo vendo o vídeo e parando. Vamos vendo o vídeo e vamos discutindo, eu vou
explicando pra eles o que está acontecendo e eles também vão me perguntando. Se
eu passo o vídeo de uma vez, eles não vão prestar atenção, não vão entender. E,
quando acabar o vídeo, vão ter esquecido o começo da história! Vendo e parando
dá pra ter mais controle de que o vídeo realmente está sendo útil.. Porque
depois, nas outras aulas, eu acabo me referindo ao vídeo.
P.B.7 - Eu fiz lançamento de noção com o filme, eu
apresentei mais conteúdos com os textos, as gravuras e a pesquisa na internet
após o filme, eu dei a eles base pra eles poderem criar suas historinhas. E
como todas tinham que ter a ver com a família real... o que eles fizeram?
Prestaram atenção ao conteúdo dado, aprenderam a matéria pra contar a história!
Isso foi muito bom!
O primeiro depoimento refere-se ao uso do vídeo em
sala de aula como ilustrativo, o que remete ao trabalho de Pretto (1996), Moran
(2000) e Napolitano (2003). Todos esses autores classificam o tipo de uso
ilustrativo como uma espécie de subaproveitamento das potencialidades do uso do
vídeo em sala de aula. A partir da análise das observações e também de outros
depoimentos, nota-se que o uso do vídeo como ilustrativo predominou entre a
maioria dos professores das escolas observadas. O segundo depoimento se
assemelha ao uso do vídeo como sensibilização, uma das sugestões de uso de
vídeo em sala de aula apontadas por Moran (2000). A sensibilização consiste em
usar o vídeo para iniciar determinado conteúdo, apresentandoo com a finalidade
de gerar ainda mais interesse. O terceiro depoimento refere-se ao vídeo ser
exibido e, durante a sua exibição, professores e alunos discutirem sobre ele.
Napolitano (2003) classifica esse tipo de análise como uma análise em conjunto
de um vídeo como fonte ocorrendo, portanto um trabalho mais aprofundado com o
vídeo.
3.2.2. Utilização da internet em sala de aula
Esse subtema explicita a forma como os professores
utilizam a internet na prática pedagógica, conforme se evidencia nas falas a
seguir:
P.A.1 - Eu vejo que a internet interessa muito a eles,
eles ficaram interessados no conteúdo, perguntaram, trocaram informações com os
colegas, assimilaram o conteúdo.. Acho que isso é muito importante, porque fica
até mais fácil pra a gente trabalhar um conteúdo, porque a vontade está
partindo deles também. E isso se reflete aqui na sala de aula, depois do vídeo,
da internet, de saberem do que se trata o assunto, eles assimilam muito melhor
o que leem no livro.
P.B.7 - A Internet deixa os alunos muito à vontade. E
aí eu aproveito isso para trabalhar os conteúdos. Eles se interessam muito
porque estão vendo ali diversas informações, não sou só eu que estou falando. E
aprendem bem mais. E o interessante também é que não se contentam só com uma
informação de um site, vão em outro, em outro. O interesse deles é fascinante
quando os levo pra internet.
P.A.6 - O material que os alunos trazem da internet
serve como um complemento do que eu trabalho em sala de aula... Eles pesquisam,
copiam, colam no caderno, daí fica como um complemento para eles mesmos... O
conteúdo em si eu trabalho é em sala de aula, a partir do livro.
Os dois primeiros depoimentos referem-se ao
interesse dos alunos com relação à internet. Sobre esse ponto, Romero (2006) e
Valente (2002) colocam que a informática e, em especial, a internet podem
despertar o aluno para determinado conteúdo de forma mais concisa. Devido à sua
questão multimídia, a internet disponibiliza imagens, textos ilustrados, vídeos
que podem facilitar a assimilação do aluno.
Já o terceiro depoimento mostra as maneiras de
realização de pesquisa pelos alunos na internet, caracterizada somente por uma
visão ilustrativa do processo. Primo (2006) coloca que a internet, quando usada
para pesquisas sem um diálogo ou discussão, a partir do que está sendo
pesquisado, se parece bastante com as posturas assumidas diante das pesquisas
com enciclopédias. Quando os alunos copiam textos da internet, ou mesmo
imprimem e colam no caderno, sem os professores discuti-los ou questioná-los, é
uma postura semelhante à que era realizada anteriormente. Essa é uma postura de
subaproveitamento dos recursos da internet, além de uma perpetuação da cultura
de transmissão de conhecimento em vez da construção conjunta. O problema não
está na consulta de textos na internet, mas na não utilização desses textos
apreendidos para gerar discussões, debates e questionamentos (PRIMO, 2006;
MORAN, 2000).
3.3. DIFICULDADES DO USO DE VÍDEO E INTERNET NAS
ESCOLAS
Esse tema mostra as dificuldades sentidas pelos
entrevistados tanto em relação à infraestrutura quanto às características dos
professores e à necessidade de um professor no laboratório de informática.
3.3.1. Infraestrutura das escolas e seus usos
A seguir, apresentam-se alguns trechos de
depoimentos transcritos:
P.A.4 - Com relação ao vídeo, aqui na escola tem
problema com sala. Por exemplo, esses dias eu estava tendo reunião de Bolsa
Família na sala de vídeo no horário de aula; com tantas salas pra usar foram
usar logo a de vídeo e não iam passar vídeo. Falta um pouco de organização
nesse sentido. Tipo também na sala de informática, que funciona xérox lá
também... Você está com os alunos na internet, aí entra alguém pra tirar xérox,
isso desconcentra o teu trabalho.
P.C.7 - Eu acho que eu poderia até usar mais as mídias
do que eu uso. E não faço isso porque é muito trabalhoso trabalhar mídia em
escola pública. Toda hora você tem um problema com equipamento, os equipamentos
são precários! E aí você perde o controle da sala quando um equipamento estraga
e você tem que parar pra arrumar, se é que você sabe arrumar ou mesmo tem que
saber arrumar aquele equipamento.
Os depoimentos mostram algumas das dificuldades
encontradas pelos professores quanto à utilização das mídias nas escolas em
termos de infraestrutura. Napolitano (2003) coloca a questão dos equipamentos
quebrados ou em mau estado como um empecilho à fluidez do trabalho do professor
com o vídeo na escola, pois isso pode acabar sendo fator de desinteresse do
professor em buscar a mídia, pois ele sabe que terá problemas com o
equipamento. Também pode ser um fator que contribui para a dispersão dos
alunos, o que pode comprometer o trabalho que o professor pretende desenvolver.
3.3.2. Características e comportamentos dos
professores diante das mídias
Assim se pronunciaram os professores sobre esse
subtema:
P.B.5 - Olha, uma das dificuldades que eu sinto, e que
eu também vejo nos outros professores para trabalhar mídias aqui na escola, é
que a maioria dos professores não tem tempo para preparar atividades com
mídias! Todo mundo dá aula em outras escolas, seja em particular ou mesmo da
prefeitura, com uma segunda matrícula... E também não acabam tendo tempo de
fazer esses cursos de aperfeiçoamento que a Secretaria oferece! Eu mesmo tinha
muita vontade de fazer, de aprender a mexer mais com computador! Mas não tenho
tempo, dou aula em quatro escolas!
P.C.9 - Professor que não sabe mexer com internet não
mexe não! Mas também não se deve culpar esse professor por não usar a internet!
Se ele não teve formação, como exigir dele que ele saiba? Seria interessante
que os professores fizessem cursos, mas acabam não tendo tempo! Ou que tivessem
aprendido em suas formações como utilizar essas mídias, né!
Esses dois depoimentos levantam alguns dados quanto
às características dos professores. O primeiro dado refere-se à carga horária
semanal. A partir dos dados da caracterização do campo, nota-se que a maioria
dos professores possui carga horária alta. Kenski (2003) afirma que devem ser
consideradas, nos projetos pedagógicos, questões que permeiam essa realidade de
grandes cargas horárias dos professores, em termos pedagógicos e
político-econômicos, pois isso interfere no desempenho em sala de aula. O outro
dado refere-se à formação do professor para o trabalho com mídias. Hargreaves
(2004) afirma que é importante que os cursos de formação de professores
busquem, dentro de suas grades, abranger disciplinas que envolvam as
tecnologias. Assim, os professores teriam uma base dentro da própria graduação
sobre o trabalho com as tecnologias, precisando futuramente apenas se
aperfeiçoar e atualizar.
3.3.3. Professor responsável pelo laboratório de
informática
Nem o ProInfo nem o Programa Informática Educativa
da SMERJ preve-em em seus projetos e programas um professor ou um
funcionário que seja responsável somente pelo laboratório de informática, como
há o professor regente de sala de leitura (MEC, PROINFO, SME, 2009). Apesar
disso, alguns professores citaram, nos depoimentos, como dificuldades ao uso da
internet em sala de aula a falta de um professor responsável pelo laboratório
de informática.
P.B.10 - É impossível manter disciplina com uma sala
onde tem três alunos por computador. Se tivesse alguém responsável pela
informática facilitaria mais. Não só nisso, mas pra sugerir atividades
também... Eu não me deixava abalar muito por isso não, mas vai cansando sabe...
Cada dia estou indo menos para informática por causa disso...
3.4. MÍDIAS E POSSIBILIDADES DE MEDIAÇÕES
3.4.1. Mediações e o trabalho com mídias
Alguns professores apresentaram um trabalho mais
aprofundado com as mídias, aproveitando diversas potencialidades, promovendo
discussões e questionamentos a partir dos conteúdos apresentados. Foi observado
que, a partir desse tipo de trabalho, as possibilidades de mediações foram
muitas.
P.A.1 - As mídias ajudam na mediação professor-aluno.
Mas não adianta trabalhar as mídias com um fim em si mesmas. A ferramenta deve
ser usada como meio, aí sim ela deve fazer a mediação, aí sim podemos tirar
coisas proveitosas daí.
P.C.8 - Eu escuto muito os alunos, eu sou mais uma
mediadora, como eu acho que este tipo de trabalho tem que ser mesmo... As
mídias trazem para os alunos uma possibilidade que permeia o seu cotidiano e
isso facilita o meu trabalho, como ele está mais interessado, o meu trabalho é
facilitado...
De acordo com os depoimentos, nota-se a
relação entre as mediações ocorridas em sala de aula e o modo do trabalho dos
professores com as mídias, de maneira articulada. Agregando-se os
relatos dos diários de campo das observações desses dois professores, as
diversas categorias de mediações apontadas por Orozco (1991) puderam ser
notadas.
3.4.2. Mediações e o trabalho com mídias como
ilustrativo
No decorrer da análise dos depoimentos e das
observações sobre as mediações, foi possível constatar que muitos professores
atribuíram papel importante à questão das mediações a partir das mídias, mas
que, durante seus trabalhos, conduziram atividades de certa maneira que vão de
encontro ao que afirmaram. Os professores utilizaram as mídias como recurso
ilustrativo aos conteúdos que trabalhavam, servindo apenas como complemento às
atividades, sem gerar discussões e questionamentos, prejudicando as
possibilidades de mediações com o uso das mídias. Para iniciar essa análise,
seguem alguns trechos de depoimentos
P.A.4 - Eu acho que as mediações são muitas. As mídias
trazem novos assuntos, expandem os conhecimentos do professor também e, claro,
melhoram o ritmo da aula, provocam discussões, questionamentos, aumentam as
participações dos alunos. Até melhoram a disciplina, sabia...
P.B.10 - Eu acho que as mídias mediam muito professor e
aluno. Elas trazem novas realidades, novos assuntos e acham que mediam mais que
os livros, porque é mais dinâmico. Eu noto isso e os alunos também. Eles também
se sentem motivados e até eles trazem novas situações para as aulas, como novos
sites para trabalharmos jogos, até mesmo educativos.
Durante as observações notou-se que o
professor P.A.4 trabalhou um vídeodocumentário sobre lixo (DVD Escola) e depois
levou os alunos para a internet para pesquisar sobre reciclagem de lixo.
Durante e após o trabalho com as mídias, o professor não provocou muitas
discussões e sempre tratou o conteúdo proveniente das mídias como ilustrativo
do conteúdo que estavam vendo no livro didático. Os alunos assistiram passivos
ao vídeo e também foram pesquisadores passivos na internet. Durante e após o
uso das mídias, foi observado que não surgiram muitas discussões e diálogos dos
alunos com o professor sobre os conteúdos vistos, ou seja, as possibilidades de
mediações com o uso das mídias foram prejudicadas. É curioso notar que o
depoimento do professor P.A.4 vai de encontro ao que ele aponta sobre
mediações.
O professor P.B.10 também realizou seu trabalho com
as mídias utilizando-as de forma ilustrativa, sem questionar a própria
mídia com os alunos e sem provocar discussões a respeito dela. O professor
passou um vídeo sobre sistema circulatório humano (documentário do DVD Escola)
e, depois do vídeo, voltou-se para o livro didático com os alunos. Em
alguns momentos, o professor remetia ao vídeo, mas para ilustrar o que estava
falando, sem abrir muitos espaços para os alunos falarem do que viram. Dessa
forma, as possibilidades de mediações com o uso das mídias também foram
prejudicadas. Foi observado que o professor P.B.10, em seu depoimento, tem uma
opinião que vai de encontro ao que foi observado em seu trabalho.
Em relação a essa forma de uso apenas ilustrativo
das mídias, pode-se afirmar, a partir de MartínBarbero (2003), que as
mediações não estariam ocorrendo de forma adequada, pois não sofrem influências
de todos os participantes da teia, predominando a mediação institucional
professoraluno, excluindo as mediações individuais e situacionais, ocorrendo,
nesse sentido, de maneira pobre, a mediação vídeotecnológica (OROZCO, 1991).
Essa forma ilustrativa de tratar a mídia em sala de aula não aproveita todas as
potencialidades que as mídias podem ter no trabalho pedagógico, portanto não se
estão valorizando as possibilidades de mediações que podem ocorrer em sua
utilização.
Napolitano (2003) e Moran (2007) colocam que é
importante que o professor procure mediar relações de conteúdo/linguagem de um
filme com o conteúdo escolar, procurando também estimular os alunos a
identificar os assuntos dos filmes com suas realidades. Dessa forma, o
professor pode ser realmente um mediador em sala de aula, deixando de ser um
transmissor de conteúdo, mesmo que esse conteúdo esteja sendo passado através de
um vídeo. Se esse vídeo for visto apenas como ilustrativo e não suscitar
discussões pelo professor, este continua a ser somente um transmissor de
conhecimento. Nesse sentido, além de não mediar as relações
aluno-vídeo/internet, também não contribui para a formação de um
aluno-espectador crítico.
Diante disso, vale colocar que Fantin (2006) afirma
que é importante que o professor não seja passivo perante as mídias, para que
então as possa trabalhar de forma ativa com seus alunos (despertando neles a
crítica e a discussão sobre as mídias também). Ao fazer a mediação entre as
mídias e os alunos e ao agir de forma crítica sobre a mediação das mídias, o
professor pode estar realmente aproveitando as potencialidades que elas
oferecem. Possibilidades que vão além de simples ilustração e que podem mediar
discussões, críticas e questionamentos ricos para o trabalho da "mídia
para educação" em sala de aula.
No decorrer da análise dos depoimentos e das
observações sobre as mediações, foi possível verificar que a maioria dos
professores atribuiu papel importante à questão das mediações a partir das
mídias, mas, durante seus trabalhos, conduziram atividades de maneira contrária
ao que afirmaram. Os professores utilizaram as mídias como recurso ilustrativo
aos conteúdos que trabalhavam, servindo apenas como complemento às atividades,
sem gerar discussões e questionamentos, prejudicando as possibilidades de
mediações com o uso das mídias.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas governamentais de modernização das
escolas públicas, tanto em proporções nacionais quanto municipais, levam às
escolas diversas mídias audiovisuais, seja com a construção de laboratórios de
informática com internet, com o envio de acervo educativo em vídeo (com
equipamentos para reprodução) ou com a criação de canais de televisão voltados
para a educação. As escolas, portanto, em sua maioria, já possuem equipamentos
para trabalhar com diversos formatos de mídia. Afirma Napolitano (2003) que a
maioria das escolas tem, no mínimo, um aparelho de televisão e um videocassete.
Além de modernizar as escolas públicas, essas
políticas, em seus projetos, incluem também a formação e a capacitação dos
professores para o trabalho com as mídias por meio de cursos e formação em
serviço oferecidos tanto pelas Secretarias de Educação quanto pelo Ministério
da Educação.
A partir dessa conjuntura, o presente artigo teve
como objetivo geral analisar como os professores estão utilizando as mídias
audiovisuais em sala de aula. A partir desse objetivo geral foram traçadas duas
questões: (a) como os professores utilizam as mídias audiovisuais em sala de
aula? Em que situação? Com que finalidade? e (b) de que maneira as mediações
ocorrem a partir do uso de mídias em sala de aula.
O referencial teórico abordou questões relacionadas
a dois pontos principais. O primeiro refere-se às relações entre mediações,
mídias e mídia-educação e o segundo ponto trata das mídias e seus usos em salas
de aula.
A análise dos dados coletados foi feita através da
análise temática de Bardin (2003). A partir dela emergiram diversos temas e
subtemas abordados pelos professores em suas respostas. Esses temas e subtemas
foram analisados à luz dos referenciais teóricos apresentados e também cruzados
com os dados da caracterização do campo e dos professores. A partir dessas
análises foram constatados pontos interessantes que clarificam o objetivo geral
e as questões apresentadas neste trabalho, que também vão além deles.
Em relação à primeira questão verificou-se que os
professores utilizam as mídias de formas diversas, envolvendo diferentes
situações e finalidades. Por meio dos dados do questionário, evidenciou-se que
a maioria dos professores considera importante o uso da mídia em sala de aula.
Entre os que consideram importante o uso das mídias, e que responderam à
entrevista, a maioria atribui a importância da mídia tanto ao fato de ela
aproximar o aluno da realidade quanto de servir como nova linguagem para o
trabalho em sala de aula.
O uso da mídia em sala de aula que mais predominou
foi a utilização como ilustração, tanto na utilização do vídeo quanto da
internet. Nesse tipo de abordagem, a mídia é usada para exemplificar
determinados pontos de um conteúdo trabalhado.
No caso específico do vídeo, nos dados apresentados
foi observado que vários professores utilizavam-se dele também apenas como
ilustração, sem trazer novas discussões e posicionamentos para a sala de aula.
Enquanto poucos professores, apesar de usarem o vídeo só como recurso
ilustrativo, aproveitaram-se do conteúdo trazido por ele para estimular discussões
e críticas com seus alunos, vendo o conteúdo ilustrado no vídeo como um
estímulo a abordagens de diferentes pontos de um conteúdo.
No caso específico da internet, usada conforme
citado anteriormente, alguns professores levavam os alunos para o laboratório
de informática para realizar pesquisas nos sites sem discutir os conteúdos que
estavam pesquisando e, ainda, os colocavam para copiar os textos dos sites. Em
sala de aula, pouco se remetiam ao pesquisado. Porém, outros poucos professores
trabalharam a internet como ilustrativa, mas levaram os conteúdos pesquisados
para as salas de aula e daí estabeleceram discussões interessantes com os
alunos.
É válido citar que as mídias (Internet/vídeo)
também foram usadas como sensibilização, partindo-se do apresentado na mídia
para a discussão em sala de aula e permeando a temática da mídia por todo o
processo de trabalho de um conteúdo. Também em alguns casos foi observada a
utilização da mídia como texto-gerador e motivador de análise de conjunto de um
conteúdo, com a presença da temática da mídia por todo o processo, e também
analisando o processo de construção da própria mídia, além do uso como
construção cooperativa, principalmente relativa à internet, por meio da qual o
professor só dizia o tema e os alunos construíram juntos conceitos, a partir de
pesquisas na internet. Porém esses usos foram poucos se comparados com a forma
de uso ilustrativo da mídia.
Em relação às situações e finalidades em que os
professores utilizaram-se das mídias, os dados também apresentaram informações
heterogêneas. Alguns professores utilizavam as mídias no início de um conteúdo,
outros, durante a aplicação do mesmo e, outros, ao final de um conteúdo. É
interessante notar que tanto os professores que trabalharam a mídia somente de
forma ilustrativa (sem utilizar todas as suas potencialidades) quanto que
exploraram as diversas possibilidades das mídias utilizaram-nas nos mais
diversos momentos. Ficou evidenciado, no decorrer das observações, então, que
não é a ordem que interfere no desempenho de um trabalho com uma mídia, mas sim
o modo como esse trabalho é feito e de que maneira o professor estimula seus
alunos e estes são sensibilizados pela mídia utilizada em sala de aula.
Assim, de modo geral, foi observado que um número
significativo dos professores lida com a mídia a partir de uma perspectiva
ilustrativa. Não a veem e nem a utilizam de forma mais articulada com os
conteúdos, mas, sim, como complemento do trabalho, fazendo de certa forma o
subaproveitamento das potencialidades das mídias.
A segunda questão proposta refere-se às
possibilidades de mediações com os trabalhos com mídias em sala de aula. A
análise dos dados obtidos teve como referencial os tipos de mediações escolares
apontadas por Orozco (1991): mediação institucional, individual, situacional e
vídeo-tecnológica.
A partir dos dados obtidos pode ser observado que a
maioria dos professores considera que a presença das mídias em sala de aula
promove mediações nas relações professor-aluno e aluno-conteúdo, e que,
portanto, enriquece o diálogo em sala de aula. Porém, na análise dos diários de
campo, nota-se que o trabalho de muitos professores não corresponde à opinião
que possuem sobre as mediações a partir das mídias. Tendo em vista a
confluência de dados, concluiu-se que, no trabalho da maioria dos professores,
prevalece apenas a mediação institucional (relação professor-alunos) e um pouco
da mediação vídeo-tecnológica (mídias-alunos), ou seja, em seus trabalhos com
as mídias não houve a busca de diálogo com seus alunos (mediação individual,
aluno com sua opinião) e nem o estímulo à mediação situacional (discussões
entre os alunos em sala e fora dela). Foi observado que os professores que
realizaram esse trabalho foram os mesmos que utilizaram a mídia como
ilustrativa, não buscando discussões e questionamentos a partir delas. Já os
professores que fizeram uso mais aprofundado da mídia apresentaram todos os
quatro tipos de mediações escolares, pois promoveram discussões, ouvindo a
opinião dos alunos (mediação individual), e estimularam discussões entre eles
(mediação situacional), além das mediações de caráter institucional e
vídeotecnológica, ao utilizarem-se da mídia como ponto de partida para guiar os
conteúdos a serem trabalhados.
Portanto, conclui-se que as possibilidades de
mediações a partir das mídias são muitas, mas dependem de como o professor lida
com elas em sala de aula. Se tratá-las sem explorar suas diversas
potencialidades e sem usá-las como objetos de discussão não estarão conduzindo
as mediações em uma teia, como aponta Martín-Barbero (2003), e, assim, não
estarão aproveitando as diversas possibilidades de mediações com o do uso das
mídias.
Outros pontos surgiram a partir dos dados coletados
nas escolas, que estão diretamente ligados às formas de uso da mídia em sala de
aula, são referentes às dificuldades encontradas pelos professores na
utilização dessas mídias. Essas dificuldades abrangem desde questões de
infraestrutura até questões de características e formação dos professores
perante as mídias.
Com relação à infraestrutura, pode-se concluir que
todas as escolas estão equipadas, mas que a manutenção dos equipamentos não
está sendo feita periodicamente. Também a quantidade de equipamentos é pequena
para atender grande quantidade de alunos por sala, tanto no laboratório de
informática (somente dez computadores) quanto na sala de vídeo (televisão
pequena). Também os sistemas de agendamentos dos equipamentos, principalmente
dos laboratórios de informática, não se efetiva com controle rigoroso. Esses
pontos foram levantados pelos professores como desmotivadores do uso das
mídias.
Referente ao laboratório de informática, os
professores levantaram a necessidade de se ter um professor de laboratório de
informática, similar ao professor regente de sala de leitura. Segundo os
professores, esse profissional poderia auxiliar na realização de atividades na
informática, na proposição de novos trabalhos e no controle do uso do
laboratório.
No que diz respeito às características dos
professores, especificamente à carga horária de trabalho, conclui-se que a
maioria dos professores possui carga horária semanal elevada e que esta também
é uma justificativa dos mesmos com relação a uma não periodicidade de trabalhos
com mídias, pois, segundo um número expressivo de participantes, não há tempo
suficiente para preparar as atividades com as tecnologias. A carga horária
também é uma das justificativas pela maioria não ter feito ou não se interessar
em fazer os cursos de capacitação oferecidos para o trabalho com mídias em sala
de aula pela SME-RJ e NTE.
Diante das falas dos professores, observa-se que o
uso das mídias nas escolas investigadas ainda é precário em relação às diversas
possibilidades que as inovações tecnológicas oferecem para o trabalho em sala
de aula. Chama-se de "ainda precário" porque as iniciativas de
modernização das escolas e capacitação dos professores existem já há algum
tempo, o que confirma a afirmação de Martín-Barbero (2003) de que as
tecnologias da informação presentes na escola deixam ainda mais visíveis as
brechas entre a cultura a partir da qual os professores ensinam e aquela em que
os alunos aprendem.
Porém, conclui-se também que esse "ainda
precário" é um problema de múltiplas dimensões, que permeia o conteúdo das
políticas públicas e suas formas de implantação e a própria estruturação do
cotidiano escolar, ou seja, o problema não está só na política e nem só nos
professores.
As considerações finais obtidas nesta pesquisa
apontam para algumas possíveis saídas que podem ser pensadas para contribuir
para o melhor aproveitamento das mídias pelas escolas, saídas apontadas nos
próprios depoimentos dos professores, entre as quais a possibilidade de criação
do professor de laboratório de informática, similar ao professor regente de
sala de leitura, além da questão do excesso de carga horária que atrapalha os
professores na preparação de atividades e nas capacitações para o trabalho com
mídia.
Por fim, cabe afirmar que as possibilidades de uso
e mediações das mídias em salas de aula são muitas, mas apontam para formas de
uso que não privilegiam todas as potencialidades que as mídias têm a oferecer,
o que advém de diversos fatores tais como a infraestrutura das escolas, a
formação dos professores e as próprias políticas públicas referentes à
modernização.
Finaliza-se este artigo apontando a importância de
se aprofundar os estudos referentes às possibilidades de uso e mediações das
mídias dentro das escolas, no contexto de uma análise que perpasse questões
pedagógicas e políticas, a fim de contribuir para o melhor aproveitamento
educacional dos recursos investidos em mídias nas escolas.
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article/view/2086/1738>. Acesso em: 14 jul. 2008.
NOTAS
1
Nesta pesquisa, que é resultante de uma dissertação de mestrado, o termo novas
mídias audiovisuais, tanto quanto somente mídias audiovisuais, mídias, novas
tecnologias, tecnologias e Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
abrangem o que se refere à internet, à televisão, ao vídeo/dvd. Referenciandose
na definição de Belloni (2005, p. 21), "as TIC são o resultado da fusão de
três grandes vertentes técnicas: a informática, as telecomunicações e as mídias
eletrônicas".
2
A mediação trata da relação e intervenção humana em processos de produção e
circulação de formas simbólicas. Constitui a relação entre mídias e seres
humanos, de forma dialética (OROFINO, 2005).