Blog GÊNEROS AUDIOVISUAIS, de autoria de Superdotado
Álaze Gabriel.
Autoria:
Ana
Paula Quilici - Orientadora do projeto e
diretora do centro de simulação ao qual foram gravados os vídeos. Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil
Allan
Danek e Felipe Teles de Arruda - Programação das atividades,
busca bibliográfica e literária dos temas abordados e produção dos vídeos. Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil
Karen
Cristine Abrão - Médica orientadora dos
procedimentos e semiologia. Assistência técnico-científico para consolidação do
projeto. Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil
RESUMO
A simulação proporciona um ambiente de aprendizado
seguro e controlado para o treinamento e o desenvolvimento de habilidades
médicas essenciais, compatíveis com o que se espera na formação dos
profissionais necessários para atender as demandas modernas da saúde. Este artigo
relata uma experiência de desenvolvimento, por estudantes de Medicina, de
vídeos educacionais para o ensino de habilidades relacionadas à semiologia e a
procedimentos médicos, visando aprimorar o aprendizado e fortalecer o
embasamento teórico e prático destas habilidades.
INTRODUÇÃO
A exposição precoce dos estudantes de Medicina aos procedimentos
e competências da profissão facilita e dá sentido ao aprendizado. A introdução
de novas tecnologias e métodos de ensino tem contribuído para aprimorar e
permitir este aprendizado de maneira mais precoce, garantindo a segurança dos
pacientes. Uma destas novas metodologias é a Simulação Médica, que, além de
permitir a exposição repetida segura, expõe estudantes a inúmeras situações da
prática profissional e contribui para aperfeiçoar habilidades não técnicas,
tais como comunicação e trabalho em equipe, colaboração, envolvimento e tomada
de decisão1-2.
Uma das ferramentas que facilita o aprendizado de
habilidades técnicas é o checklist ou guia, instrumento que decompõe o
procedimento a ser aprendido em várias etapas, orientando passo a passo as ações
a serem executadas em ordem cronológica para completar tal procedimento. Estes
instrumentos são criados pelos professores ou extraídos de tratados médicos e
podem ser utilizados tanto em aulas práticas com supervisão docente quanto no
estudo individual dos alunos. O Quadro 1 mostra um exemplo de checklist.
Numa perspectiva pedagógica, a teoria de Mayer de
aprendizagem multimídia postula que as pessoas aprendem melhor quando as
imagens são combinadas com palavras em um ambiente de aprendizagem eletrônica3.
A definição de Mayer de multimídia inclui animação e narração, não apenas texto
correspondente e ilustrações estáticas. Os estudos desse autor, que envolvem o
uso de tutoriais multimídia curtos, mostraram significativos resultados de
aprendizagem e constituíram o marco conceitual para o presente projeto.
Além disso, alguns estudos mostraram que os vídeos
tutoriais são materiais educacionais convenientes e que aumentam a motivação e
satisfação dos alunos com o processo de ensino-aprendizagem4-5.
Portanto, acredita-se que a combinação entre o checklist
e vídeos tutoriais pode incrementar o aprendizado das habilidades médicas num
ambiente de simulação. Com base nestes conceitos, o presente projeto foi
proposto por dois estudantes do quarto e oitavo semestres do curso de Medicina,
com o objetivo de facilitar o estudo individualizado dos alunos, padronizar os
procedimentos e aumentar a segurança e motivação dos estudantes que estão sendo
introduzidos à Semiologia Médica do primeiro ao quinto semestre do curso
6-7.
RELATO DA EXPERIÊNCIA
O presente projeto foi realizado por dois
estudantes do quarto e oitavo períodos do curso de Medicina. Os vídeos foram
produzidos no laboratório de Simulação em Saúde da própria universidade,
utilizando equipamentos médicos reais e/ou simulados, manequins que mimetizam
funções vitais humanas, e os próprios autores representaram pacientes na
execução de algumas técnicas semiológicas.
Para a filmagem, foi empregada uma filmadora
digital DCR-SR45 Sony com tripé, e a edição foi feita em um computador pessoal
com uso dos softwares After effects CS5, Photoshop CS5 e Corel
VideoStudio Pro X4. Tanto a filmagem quanto a edição dos vídeos foram
executadas pelos alunos autores do projeto.
Inicialmente, foram feitas reuniões para a escolha
dos procedimentos para as futuras gravações e possíveis correções dos
instrumentos, feitas junto aos professores orientadores. Os temas foram
escolhidos pela pertinência para alunos que estão em fase de aprendizado de
Semiologia e procedimentos médicos. Os vídeos escolhidos até o presente momento
estão listados no Quadro 2.
Uma vez definidos os procedimentos, foram separados
os respectivos checklists e identificados os equipamentos e recursos
necessários à confecção dos vídeos. Diversas gravações foram testadas para
avaliação do melhor ângulo e melhor apresentação aos estudantes. Até o momento,
foram editados nove vídeos, correspondentes aos números 2, 7, 13, 14, 15, 16,
17, 18 e 19 do Quadro 2. Os demais estão sendo
elaborados pelos alunos autores, em horários disponíveis para atividades
extracurriculares.
Na execução dos vídeos, houve duas etapas:
ensaio-gravação e edição. Os tempos destinados a essas etapas e o tempo de
filme editado estão descritos na Tabela 1.
Utilizando-se os checklists, construiu-se a
estrutura passo a passo dos vídeos.
DISCUSSÃO
O presente projeto apresenta uma alternativa para
melhorar o aprendizado de habilidades e procedimentos médicos por meio da
utilização de vídeos educacionais associados à simulação. Trata-se de um
projeto piloto, que será seguido por uma pesquisa que avaliará o impacto do uso
de tais vídeos no aprendizado dos alunos no curso de Medicina.
Diversos estudos comprovam que o emprego de vídeos
pode melhorar o aprendizado de procedimentos médicos. Em um estudo realizado na
Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, foi apresentado a médicos em
treinamento um vídeo sobre cateterismo vesical em homens e mulheres. O grupo de
11 participantes que teve acesso ao vídeo foi comparado a outro, de dez
participantes, que não teve acesso ao vídeo. Ambos os grupos receberam
treinamento com simulação da sondagem vesical em manequins. Antes do
treinamento, foi aplicado um questionário sobre o conhecimento prévio do tema e
os níveis de confiança no desempenho da sondagem. Todos os participantes praticaram
a sondagem, sendo avaliados pelo mesmo corpo docente. Após a avaliação, os
participantes completaram novamente o questionário sobre os níveis de confiança
e habilidade. Nos três meses subsequentes, apenas um dos grupos teve acesso ao
vídeo, e o outro não recebeu nenhuma intervenção educacional. No final de três
meses, os participantes repetiram a avaliação prática de habilidades no
laboratório e preencheram novamente o questionário. Observou-se que o grupo que
teve acesso aos vídeos obteve maiores índices de competência e autoconfiança,
especialmente na sondagem vesical feminina8.
No estudo citado, o vídeo foi apresentado após o
treinamento, mas os autores do presente estudo acreditam que usar os vídeos no
momento do treinamento pode ser ainda mais produtivo, melhorando o
desenvolvimento psicomotor e a retenção, no mesmo modelo do Watch then
Practice, amplamente utilizado nos treinamentos de ressuscitação
cardiopulmonar da American Heart Association, uma das pioneiras no uso deste
tipo de técnica9.
Além disso, os vídeos podem ser vistos em
dispositivos móveis e divulgados em diversos meios de comunicação, como
internet, celulares e redes sociais, ampliando o acesso de médicos e estudantes
de Medicina, o que pode estimular o estudo fora da sala de aula e dos
laboratórios10-11. Apesar do tempo requerido para sua produção, não
são necessários altos investimentos, e os vídeos podem ser utilizados
repetidamente em diversas situações.
Encontramos algumas barreiras geográficas, que
tivemos que transpor. Otimizar o tempo necessário aos ensaios, edições e
gravações dos vídeos se tornou um dos nossos principais objetivos, pois a
graduação de Medicina é feita em período integral. Assim, comumente,
desenvolvíamos nossas atividades após o término das aulas. No ato da gravação,
constantemente éramos surpreendidos pela dificuldade técnica, surgindo a
necessidade de que alguém gravasse e auxiliasse na montagem das cenas, ocasião
em que pedíamos apoio a funcionários ou estudantes, que prontamente nos
auxiliavam. Após a gravação, começava o processo de edição, mas não tínhamos no
local um computador apto para edição. Por isto, esperávamos os fins de semana,
para concretizar a edição na residência de um dos idealizadores do projeto,
situada no interior de São Paulo.
Hoje, quem assiste aos vídeos tem a percepção de
que dispusemos de excelente infraestrutura no laboratório de simulação - todos
os materiais, anatomia e, principalmente, o procedimento. Pudemos escolher
vários ambientes e bonecos para aperfeiçoar a didática com os vídeos e
associá-los à apresentação, o que se refletiu no esclarecimento de dúvidas no
estudo individualizado do aluno na ausência do professor.
É importante ressaltar a grande contribuição dos
estudantes no desenvolvimento e aprimoramento do processo educacional. A visão
das novas gerações, afeitas à tecnologia, permite criativas soluções que
melhoram a aprendizagem. Além disso, o envolvimento dos alunos nos processos
pedagógicos os motiva ainda mais para o estudo e possibilita que tomem as rédeas
de seu aprendizado, deixando de ser espectadores para se tornarem protagonistas
no cenário da educação médica.
CONCLUSÃO
O presente projeto oferece uma nova abordagem
pedagógica para melhorar as competências dos estudantes de Medicina e sua
autoconfiança na realização de procedimentos, por meio de vídeos educativos
elaborados pelos alunos e dirigidos a este mesmo público. Estes materiais podem
ser utilizados em aulas pelos professores e também disponibilizados para estudo
individualizado, uma vez que facilitam o aprendizado e a memorização do
conteúdo.
Partindo desta iniciativa, os alunos evidenciam que
a responsabilidade do ensino não tem que proceder apenas do docente e que a
visão dos estudantes sobre novas tecnologias pode contribuir grandemente para o
aperfeiçoamento do processo educacional, de forma a fortalecer o ensino médico.
REFERÊNCIAS
1. Grant
DJ, Marriage SC. Training using medical simulation. Arch. Dis. Child. 2011.
2. Ziv A,
Wolpe PR, Small SD, Glick S. Simulation-based medical education: an ethical
imperative. Simul Healthc. 2006; 1(4):252-6.
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RE. Multimedia Learning. Cambridge, UK: Cambridge University Press; 2001.
4. Anon.
iPods in bedside medical education: improving care in developing countries.
Apple Inc. 2010.
5. Maag
M. Podcasting and MP3 players: emerging education technologies. Comput Inform
Nurs. 2006;24(1):9-13.
6.
Osterweil N. Medical students take iPod sounds to heart. Medpage Today. 2007.
7. Jelesiewicz
E. iPods help docs improve stethoscope skills. Temple Time Online Edition. 2007.
8. Hansen
M, Oosthuizen G, Windsor J, Doherty I, Greig S, McHardy K et al. Enhancement of
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2011;13(1):e29.
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American Heart Association Guidelines 2005 for Cardiopulmonary Ressuscitation
and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2005; 112: 4-19.
10.
Santoro E, Caldarola P, Villella A. [Using Web 2.0 technologies and social
media for the cardiologist's education and update]. G Ital
Cardiol (Rome). 2011;12(3):174-81.
11.
Oblinger DG, Oblinger JL. Educating the net generation. Educause. 2005.
Recebido em: 26/06/2012. Reencaminhado em:
03/07/2012. Aprovado em: 12/07/2012.