Blog GÊNEROS AUDIOVISUAIS, de autoria de Álaze Gabriel.
Autoria:
1-
Francis
Solange Vieira Tourinho - Professora
do Departamento de Enfermagem e Líder do grupo laboratório de investigação do
cuidado, segurança e tecnologias em saúde e enfermagem da UFRN;
2 - Kleyton Santos de Medeiros - Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da UFRN, Natal, (RN).
Bolsista e Iniciação Científica CNPq (PIBIc - CNPq);
3 - Pétala Tuani Candido De Oliveira Salvador - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN. Bolsista
da CAPES
Grayce Loyse Tinoco Castro -
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN;
4 - Viviane Euzébia Pereira Santos - Professora
do Departamento de Enfermagem. Vice-Líder do grupo de pesquisa-
laboratório de investigação do cuidado, segurança e tecnologias em saúde e
enfermagem da UFRN.
RESUMO
OBJETIVO: Analisar os vídeos no sítio de compartilhamento YouTube,
observando quais os pontos tratados nos vídeos relacionados à reanimação
cardiopulmonar e ao Suporte Básico de Vida.
MÉTODOS: A análise foi baseada no Guidelines de 2010
da American Heart Association.Trata-se de uma pesquisa do tipo
exploratória, quantitativa e qualitativa, realizada no sítio de
compartilhamento do YouTube, utilizando-se os Descritores em Ciências da
Saúde "reanimação cardiopulmonar" e "suporte básico de
vida" para vídeos que tinham como foco o suporte básico de vida.
RESULTADOS: Durante a investigação inicial encontrou-se 260
vídeos, foram escolhidos para análise,61. Estes,em sua maioria, foram
postados por pessoa física e pertencem à categoria Education. Grande parte dos
vídeos, apesar de serem adicionados ao sítio depois da publicação do Guidelines
de 2010 da AHA, estava de acordo com as antigas diretrizes de 2005.
CONCLUSÃO: Embora o sítio de compartilhamento de vídeos
YouTube seja amplamente usado atualmente, nele há uma carência de vídeos a
respeito de reanimação cardiopulmonar e Suporte Básico de Vida adequados às
diretrizes da American Heart Association, podendo influenciar
negativamente a população que o utiliza.
Descritores: Recursos audiovisuais. Filmes e vídeos educativos.
Ressuscitação cardiopulmonar. Técnicas e procedimentos diagnósticos.
Emergências.
INTRODUÇÃO
A parada cardiorrespiratória (PCR) compreende
uma situação dramática caracterizada pela interrupção das atividades
respiratória e circulatória efetivas, responsáveis por morbimortalidade
elevada, mesmo em situações de atendimento ideal1.
A ocorrência de PCR é mais comum no ambiente
pré-hospitalar em relação ao hospitalar, sendo que cerca de 50% dos pacientes
com infarto agudo do miocárdio não chegam vivos ao hospital1.
A taxa de sobrevida após uma PCR varia de dois a
49%, e depende do ritmo cardíaco inicial e do início da reanimação precoce.
Sabe-se que esta taxa de sobrevida pode dobrar, e até mesmo triplicar, quando a
reanimação cardiopulmonar (RCP) é realizada com alta qualidade2. O
tempo é uma variável importante na PCR, estimando-se que, a cada minuto que o
indivíduo permaneça em PCR, 10% de probabilidade de sobrevida sejam perdidos1.
Considerando essa situação, o Ministério da Saúde,
desde 2008, oferece treinamento em Suporte Básico de Vida (SBV) para os
profissionais da rede do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192),
os quais, por meio dessa capacitação, desenvolvem subsídios para promover uma
RCP eficaz.
Além disso, faz-se necessário que o leigo receba
treinamento em SBV para o atendimento precoce em situações de emergência à
vítima de PCR, colaborando com a redução significativa dos óbitos no ambiente
extra-hospitalar, com o aumento da sobrevida e com a diminuição das sequelas
das vítimas de PCR3.
Destaca-se que, uma RCP de qualidade exige
conhecimento teórico e habilidade, o que é essencial para a sobrevida do
paciente com risco iminente de morte súbita. Destarte, o uso apropriado do
conhecimento e a capacidade de realizar RCP por parte dos profissionais de
saúde ou leigos estão relacionados à redução da mortalidade e da morbidade das
vítimas de PCR súbita4.
Nessa perspectiva, o uso de recursos como aulas
teóricas e vídeos de RCP, não aprimora a capacidade psicomotora em realizar RCP
de alta qualidade, porém aumentam a capacidade cognitiva, ou seja, o
conhecimento. Desse modo, aulas e vídeos podem produzir RCP de boa qualidade,
proporcionando uma possível melhoria na sobrevida do paciente vítima de PCR
dentro e fora do hospital4.
É sabido que muitas pessoas utilizam o sitio do YouTube
para buscar conhecimento acerca de agravos à saúde. Nesse contexto,
interroga-se: o que retratam os vídeos sobre RCP e SBV no sítio de
compartilhamento YouTube? Eles estão de acordo com os destaques das Diretrizes
da American Heart Association (AHA) 2010 para RCP e atendimento
cardiovascular de emergência (ACE)?
Assim, o objetivo desta pesquisa, considerando a
relevância do assunto e, principalmente, a necessidade de constante atualização
na área, é analisar os vídeos no sítio de compartilhamento YouTube,
observando cuidadosamente os pontos tratados nos vídeos relacionados à RCP e
SBV com base no Guidelines de 2010 da AHA.
MÉTODOS
O trabalho em questão é uma pesquisa do tipo
exploratória, com abordagem quantitativa, realizada no sítio de
compartilhamento de vídeos YouTube, cujo endereço virtual é: www.youtube.com. Apesar da existência de outros
sítios de compartilhamento de vídeos, a escolha do YouTube se deu por
este ser, atualmente, o mais difundido entre os usuários de internet.
Inicialmente, foi realizada uma busca no YouTube,
utilizando-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) "reanimação
cardiopulmonar" e "suporte básico de vida" para vídeos que
tinham como foco o suporte básico de vida.
Destaca-se que, segundo a Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), por meio dos DECS, reanimação cardiopulmonar e suporte básico de
vida denotam a substituição artificial da ação do coração e pulmão conforme
indicação para parada cardíaca resultante de choque elétrico, afogamento,
parada respiratória ou outras causas. Esses descritores, portanto, indicam a
ação humana na manutenção da circulação sanguínea e ventilação em uma pessoa
vítima de parada cardíaca, aspecto que foi buscado na análise dos vídeos.
Foram definidos como critério de inclusão: duração
do vídeo, menor que 4 minutos, como o próprio sítio classifica; vídeos de
língua portuguesa (sem restrições no que diz respeito ao sujeito da produção ou
ao tipo de linguagem utilizada verbal ou não verbal, referência direta à
RCP; e data limite de postagem de 01 de novembro de 2010 até 10 de novembro de
2011 (até um ano após o lançamento das novas diretrizes de RCP da AHA),
considerando-se o montante de vídeos armazenados no sítio e a contínua adição
de vídeos.
Os critérios de exclusão adotados foram: não
corresponder à temática estudada e/ou não responder à questão norteadora; além
dos vídeos duplicados.
A pesquisa foi realizada através de visitas ao
sítio, as quais aconteceram sem local definido, uma vez que não existe
restrição de acesso aos vídeos se acessados de locais diferentes, como acontece
com alguns portais de pesquisa. Assim, foi possível realizar várias visitas que
se fizeram necessárias, em diferentes momentos, para a observação e análise dos
vídeos de forma organizada e tranquila.
Após esta fase, os vídeos sofreram uma triagem, a
partir dos títulos e das descrições que cada um passa a ter ao ser postado no
sítio, de acordo com os critérios de inclusão.
Uma vez realizada a seleção dos vídeos, foi
iniciada a coleta de dados. Para isto, foram assistidos um a um e foram
extraídas informações como: tempo de duração, autor (pessoas física, órgão ou
empresa) e conteúdo do vídeo com a observação cuidadosa, focalizando quais
pontos relacionados à RCP relacionados ao Guidelines de 2010 da AHA eram
abordados.
Como variáveis de controle do estudo, destacam-se
as sequências C, A, B, D de atendimento às vítimas de agravos cardiológicos,
iniciando-se pelo SBV com as sequências: C (mínimo de 100 compressões por
minuto rápidas e eficazes), A (abertura de via aérea), B (ventilações) e por
último D (desfibrilação precoce), com relação de 30 compressões para duas
ventilações5.
Os dados obtidos foram tabulados, agrupados e
analisados para elaborar o perfil de qualidade dos vídeos sobre RCP e SBV
armazenados no sítio YouTube.
Não se fez necessária a aprovação em comitê de
ética, uma vez que a pesquisa não está envolvida diretamente com seres humanos,
utilizando material de domínio público.
RESULTADOS
A sinopse dos dados referentes aos achados através
da busca dos vídeos no sítio do youtube.com, está descrita na tabela 1.
A busca no sítio do YouTube.com totalizou
260 vídeos. Foram escolhidos para análise 61 vídeos (Tabela 1) que foram analisados atendendo
ao objetivo da pesquisa.
Percebeu-se que todos os vídeos são atuais. Estes,
em sua maioria, são postados por pessoa física, tendo em vista que qualquer
pessoa que tenha uma conta no sítio do YouTube pode postar seus vídeos.
Porém, encontram-se também vídeos postados por empresas e organizações não
governamentais (ONG) (Tabela 2).
Analisou-se, também, a categoria em que os vídeos
estavam dispostos no sítio do YouTube (Figuras 1 e 2). Assim, observa-se que 90% dos
vídeos pertencem à categoria Educação.
A tabela 3 retrata os principais erros
encontrados nos vídeos analisados, considerando os dois descritores.
A tabela 4 retrata um resumo das principais
condutas adequadas enfatizadas nos vídeos analisados, de acordo com os
descritores escolhidos.
DISCUSSÃO
Ao se analisar cuidadosamente alguns pontos
relacionados à RCP com base no Guidelines de 2010 da AHA tratados nos vídeos,
observou-se que grande parte dos vídeos, apesar de serem adicionados ao sítio
depois da publicação deste documento norteador, estava de acordo com as antigas
diretrizes de 2005.
Logo, a sequência C, A, B, D de atendimento às
vítimas de agravos cardiológicos não era observada. Nesses vídeos, as manobras
de RCP eram iniciadas por duas ventilações de resgate e ainda um determinado
vídeo fazia referência ao início da RCP com quatro ventilações de resgate.
Outro ponto observado é que alguns vídeos retratam
as manobras de RCP sendo realizadas com aproximadamente 100 compressões
torácicas por minuto. Porém, de acordo com o novo Guidelines, as
compressões torácicas deveriam ter uma frequência de no mínimo 100 por minuto5.
Outros vídeos apontam a importância do
reconhecimento adequado da PCR e revelam a melhoria nas taxas de sobrevida do
paciente. Desse modo, as recomendações para o reconhecimento de PCR envolvem os
sinais de responsividade: não apresentar respiração ou apresentar respiração
anormal e ausência de pulso carotídeo ou femoral5. Fato nem sempre
observado nos vídeos analisados, dos quais alguns exibem um reconhecimento
inapropriado do pulso da artéria radial e da veia subclávia; e a não
verificação de resposta da vítima a estímulos realizados pelo socorrista.
Destaca-se que em um vídeo o socorrista refere-se à ausência de movimentos
peristálticos como forma de reconhecimento de PCR.
Além disso, o procedimento "Ver, ouvir e
sentir se há respiração" presente no Guidelines de 2005, foi
bastante elucidado nos vídeos. Porém, sabe-se que na nova diretriz esse
procedimento foi removido da sequência da RCP5. Dessa forma, após a
aplicação de 30 compressões, o socorrista que atuar sozinho deverá abrir a via
aérea do paciente e realizar duas ventilações.
As diretrizes da AHA 2010 enfatizam a necessidade
de uma RCP de alta qualidade, ou seja, que observe os seguintes aspectos:
frequência de compressão mínima de 100/min; profundidade de compressão mínima
de duas polegadas (cinco centímetros) em adultos, e de, no mínimo, um terço do
diâmetro anteroposterior do tórax, em bebês (quatro centímetros) e crianças
(cinco centímetros); retorno total do tórax após cada compressão; minimização
das interrupções nas compressões; e prudência no excesso de ventilações5.
Segundo estudos do Conselho Europeu de
Ressuscitação, o correto posicionamento das mãos é fundamental para a eficácia
da realização da RCP6. Entretanto, essas características
fundamentais são banalizadas em alguns vídeos, nos quais, por exemplo, a
interrupção dos ciclos de reanimação é explicitada constantemente.
Além disso, não houve alteração na recomendação
referente à relação compressão-ventilação de 30:2 para um único socorrista de
adultos, crianças e bebês (excluindo-se recém-nascidos). Assim, todos os vídeos
selecionados que se referem a essa relação, citam-na corretamente; exceto um
deles que remete a uma relação de 10:2.
Observou-se que a cadeia de sobrevivência de ACE
adulto da AHA, ou seja: reconhecimento imediato da PCR e acionamento do serviço
de emergência/urgência, RCP precoce, com ênfase nas compressões torácicas, e
rápida desfibrilação5,7, estava presente em alguns vídeos; enquanto
que o suporte avançado de vida eficaz e cuidados pós-PCR integrados foi
abordado apenas por um único vídeo.
Existe uma escassez no sítio do www.youtube.com de vídeos relacionados à RCP em
crianças, observado em apenas um curto vídeo, em que as manobras ainda estavam
de acordo com as diretrizes de 2005.
Esta escassez se estende aos vídeos que enfatizam a
desfibrilação precoce nos casos de PCR7, encontrando-se na pesquisa
apenas dois vídeos que abordam a desfibrilação precoce do ritmo fibrilação
ventricular, o que não é visto com o ritmo taquicardia ventricular sem pulso,
mesmo sendo um ritmo em que o choque é recomendado.
Apesar de terem sido usados os descritores
reanimação cardiopulmonar e suporte básico de vida, alguns vídeos tratam de
comédia ilustrativa, reportagens a respeito de uma ação educativa, criança
realizando compressões torácicas em brinquedo de pelúcia, propaganda de um
aparelho desenvolvido para desempenhar RCP e de artigos médicos hospitalares,
manutenção do desfibrilador externo automático (DEA) e flashes
esporádicos de aulas sobre RCP.
Portanto, conclui-se, após a análise dos vídeos,
que é notória a existência de uma carência de vídeos adequados abordando a RCP
e SBV no sítio de compartilhamento de vídeos YouTube.
Tendo em vista que este sítio é o mais difundido
entre os usuários de internet e que muitas pessoas usam-no como fonte de
pesquisa, seria necessária a criação de vídeos de caráter educativo para serem
difundidos pela internet a propósito de disseminar o conhecimento de RCP
de forma adequada para a população leiga, bem como, científica, além de
oportunizar de forma apropriada a sua utilização em espaços de treinamentos e
aulas didáticas, favorecendo a fixação do conteúdo exposto.
Sabe-se que RCP de alta qualidade aumenta as
chances de sobrevida, então uma mensagem importante, nesse contexto, é que
todas as vítimas de parada cardíaca devem receber a RCP de alta qualidade,
sendo fundamental a população se tornar ciente das manobras de reanimação
cardiopulmonar, para, dessa forma, salvar vidas.
REFERÊNCIAS
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SRMS, Cyrillo RMZ. Novas diretrizes da ressuscitação cardiopulmonar. Rev
Latino-am Enfermagem. 2008;16(6):1060-2.
3. Pergola AM, Araujo IEM. O leigo e o suporte
básico de vida. Rev esc enferm USP. 2009;43(2):335-42.
4. Miotto HC, Camargos FRS, Ribeiro CV, Goulart
EMA, Moreira MCV. Efeito na ressuscitação cardiopulmonar utilizando treinamento
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7.
Fischer H, Gruber J, Neuhold S, Frantal S, Hochbrugger E, Herkner H, et al.
Effects and limitations of an AED with audiovisual feedback for cardiopulmonary
resuscitation: a randomized manikin study. Resuscitation. 2011;82(7):902-7.